Bolsonaro e a construção de sua influência: entre genialidade política, conflitos e ambição familiar

Bolsonaro e a construção de sua influência: entre genialidade política, conflitos e ambição familiar

O ex-presidente Jair Bolsonaro é, sem dúvida, uma figura singular no cenário político brasileiro. Quando decidiu disputar a presidência, encontrou um terreno fértil criado por dezenas de grupos conservadores de direita espalhados pelo Brasil, grupos como Patriotas, Vem pra Rua, Nas Ruas e MBL. Esses movimentos desde 2013 já vinham consolidando a insatisfação popular com o governo petista, realizando ações marcantes, como a exibição de bonecos infláveis do ex-presidente Lula vestido de presidiário, com o lema “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”.

Bolsonaro foi sagaz ao perceber essa brecha política. Falando a mesma linguagem dos grupos que já criticavam o socialismo, as pautas progressistas e a corrupção, ele se lançou como candidato que representava esses ideais. Sua estratégia foi simples, mas eficaz: trazer à tona temas como a criminalidade, a crise econômica e os projetos socialistas que afligiam o país, como a “ideologia de gênero”, termo cunhado no grupo Patriotas. Com a extratégia de defender os mesmos temas Bolsonaro se tornou, rapidamente, o nome adotado por esses grupos e por cidadãos que, mesmo sem simpatizar com sua personalidade agressiva, o enxergaram como a melhor alternativa para barrar o avanço da esquerda.

O apoio da base conservadora

Os grupos de direita que impulsionaram Bolsonaro somavam milhões de pessoas, conectadas por lives, postagens e ações diárias em todo o Brasil. Eles foram fundamentais para consolidar o movimento que o levou à vitória. Contudo, uma vez eleito, Bolsonaro tratou de apagar esses movimentos do protagonismo político.

Essa estratégia, embora polêmica, foi cuidadosamente calculada. Ao desconsiderar publicamente a contribuição dos grupos patriotas que pavimentaram seu caminho até a presidência, Bolsonaro se posicionou como o único responsável por sua ascensão. Essa postura ajudou a construir sua imagem de líder autossuficiente e, ao mesmo tempo, abriu caminho para um plano mais ambicioso: preparar seus filhos para cargos políticos de destaque, incluindo a presidência da República.

Conflitos com apoiadores e críticas

A estratégia de Bolsonaro, no entanto, não passou despercebida. Grupos e personalidades que já estavam no movimento de direita muito antes de Bolsonaro ser conhecido, rapidamente perceberam a tentativa de centralizar o protagonismo político, e então discordaram e alertaram sobre a construção de uma narrativa voltada à consolidação de uma dinastia familiar de Bolsonaro.

Essas críticas resultaram em uma série de conflitos e rompimentos entre Bolsonaro e os movimentos que o apoiaram. Muitos desses aliados, com posicionamentos alinhados à direita muito antes de Bolsonaro adotar essa postura, lembraram que ele já havia se declarado de centro e até mesmo apoiado Lula no passado. Ironicamente, esses mesmos aliados conservadores e de direita acabaram sendo rotulados por Bolsonaro como “traidores” ou até mesmo “esquerdistas”.

Bolsonaro, com sua retórica incisiva, não hesitou em destruir a reputação de críticos que apontavam incoerências ou faziam cobranças legítimas. Essa postura contribuiu para enfraquecer grupos e vozes da direita que poderiam se posicionar como alternativas, garantindo que seu projeto de poder permanecesse sem grandes concorrentes dentro do próprio campo político.

A estratégia para uma dinastia política

Bolsonaro já contava com vários filhos na política e, ao silenciar sobre os grupos que o apoiaram, criou uma narrativa que favorece a consolidação de uma dinastia familiar. Se ele reconhecesse o papel dos movimentos de direita que, desde antes de sua candidatura, denunciavam questões como ideologia de gênero, aborto e a ameaça comunista, ele perderia parte da legitimidade necessária para transferir esse capital político aos seus herdeiros.

Nos últimos dias, jornais destacaram a intenção de Bolsonaro de lançar um de seus filhos como candidato à presidência em 2026, o que demonstra que seu plano de perpetuar a influência da família está em andamento. Mesmo inelegível, Bolsonaro aposta na transferência de poder como forma de permanecer relevante no cenário político e continuar governando o Brasil indiretamente através de seus filhos.

Reflexões sobre o futuro

A postura de Bolsonaro evidencia uma habilidade política inegável, mas também levanta questões importantes sobre o uso do poder e a formação de dinastias no Brasil. Seu protagonismo inicial teve origem em uma base popular que rejeitava o socialismo e ansiava por mudanças, mas, ao centralizar os méritos em si mesmo e combater críticos de forma implacável, ele pode ter comprometido parte dessa conexão com os movimentos de direita.

Durante esse processo Bolsonaro brigou com centenas de apoiadores entre eles: Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta, João Doria, Rodrigo Maia, Julian Lemos, Gustavo Bebianno, Paulo Marinho, Luciano Bivar, General Santos Cruz, Major Olímpio, Joice Hasselmann, Janaina Paschoal, Delegado Waldir, Abraham Weintraub, Arthur Weintraub, Kim Kataguiri, Arthur do Val, General Carlos Alberto dos Santos Cruz, General Eduardo Villas Bôas, General Maynard Santa Rosa, General Franklimberg Ribeiro de Freitas, General Juarez Aparecido de Paula Cunha, General Otávio Rêgo Barros, General Fernando Azevedo e Silva, General Joaquim Silva e Luna, General Antônio Hamilton Martins Mourão, Jackson Villar e ainda com dezenas de grupos conservadores de direita em todo o Brasil.

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